“Mãe, me dá isso?”, “Pai, compra aquilo?”. Qual pai ou mãe nunca ouviu isso dentro de uma loja? Quem de nós nunca proferiu essas frases, em meio a supermercados ou em frente a uma propaganda de televisão? Geralmente, o maior problema das indagações realizadas pelas crianças está na resposta subsequente.
Quando um pai ou uma mãe responde somente um “sim”, sem negociações ou qualquer implicação, cria-se um elo no cérebro infantil, associado ao pedido apelativo e à satisfação imediata de seu desejo, sem qualquer relação a um conceito de valor e preço. Por outro lado, quando a resposta é um “não”, tem-se, consequentemente, uma explicação que atrela motivos à resposta negativa e abre um leque de novos questionamentos no consciente da criança, principalmente, quando o porquê relaciona-se ao custo elevado ou à falta de dinheiro. Porém, mesmo com a diferença nas situações, em ambos os casos, tanto no “sim” quanto no “não”, é introduzido um novo conceito no desenvolvimento daquela criança: a educação financeira.
Dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio) apontam que 66,6% dos brasileiros estão em situação de inadimplência, ou seja, mais da metade da população no país não está conseguindo colocar suas contas em dia devido ao mau uso do crédito e da falta de controle sobre as próprias finanças. Tal situação é, nitidamente, um reflexo da conjuntura histórico-social existente no Brasil, visto que inexistia até então um alicerce pedagógico elementar que abordasse o controle financeiro em sua plenitude além do mais. A falta de conhecimento básico sobre a complexidade monetária nacional é, até o tempo presente, a conta mais cara paga pelo cidadão brasileiro. Aspectos econômicos essenciais ainda são para muitos uma incógnita, por exemplo:
- Juros compostos, que regem à maioria das movimentações financeiras no país;
- Taxas, que estão ativamente em nosso cotidiano, tal como a Selic;
- Índices financeiros, que afetam diretamente o mercado como um todo, tal qual o IPCA;
Contudo, foi dado o primeiro passo para a transformação desse cenário no país. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu a Educação financeira entre os temas transversais que deverão constar nos currículos de todo os cidadãos brasileiros, a partir de 2020. Embora seja um tema interdisciplinar, só é possível incorporar explicitamente com a base na matemática. “A nova BNCC abrange a educação financeira e a conscientização do consumo nas disciplinas de Língua Portuguesa, Arte, Língua Inglesa, Matemática,Geografia e História”, é o que garante Ronaldo Vieira da Silva, Chefe-Adjunto do Departamento de Educação Financeira do Banco Central do Brasil, um dos contribuintes com a discussão do documento. É importante contemplar o tema nas diversas competências, a fim de ajudar o aluno, desde cedo, a desenvolver a capacidade de tomar boas decisões e aprender habilidades que irão impactar positivamente a sua vida financeira.
Algumas situações do cotidiano, como a realização de empréstimos, financiamentos de casa e carros, compras com o cartão, crediário, investimentos em bolsas de valores, entre outras situações, possuem algo em comum: taxas. Todas as movimentações financeiras são baseadas em uma estipulação prévia de taxas de juros. Entender as taxas básicas da economia que afetam seu bolso é imprescindível para quem busca uma educação financeira sólida.
A Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) é uma taxa de juros básica na economia, utilizada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que controla a inflação. Ademais, afeta operações financeiras como investimentos, rendimentos, empréstimos, uso do cheque especial, entre outros. Mas, afinal, como ela afeta seu dinheiro? Se a Selic diminuir, o rendimento de títulos do Tesouro Direto e investimentos de renda fixa pós-fixada fica menor; o crédito fica mais acessível e a inflação tende a subir. Se a Selic aumenta, os rendimentos das aplicações financeiras em Renda Fixa e no Tesouro Direto aumentam; os preços tendem a baixar ou ficar estáveis.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é o índice que mostra a inflação do país, ou seja, ele quem indica os preços dos produtos. Além de impactar diretamente seu bolso com itens do dia a dia, o IPCA também afeta a rentabilidade de alguns investimentos pós-fixados que estão atrelados a ele – títulos do Tesouro Direto, por exemplo.
Desse modo, elucidando-se alguns aspectos essenciais na Educação Financeira, é fundamental a integração desse conteúdo na formação básica de todo cidadão brasileiro. O controle sobre o próprio dinheiro permite uma maior segurança frente às decisões difíceis e tende a uma maior estabilidade, não só ao longo da vida, mas em situações de crise, como em uma pandemia, por exemplo. Assim, será possível a construção de um Brasil menos endividado e uma sociedade instruída a planejar e controlar seus gastos, com pais e mães hábeis a instruir seus filhos perante a um pedido de compra que pode ser reavaliado.Referências
- Annunciato, Pedro. Nova Escola. BNCC inclui Educação financeira em matemática. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/9798/bncc-inclui-educacao-financeira-em-matematica>. Acesso em: 05 de Set de 2020.
- THEISEN, Volnei. O Conhecimento da Matemática Financeira como fator de proteção ao direito econômico de cada cidadão. Foz do Iguaçu, 2016.
- Blog Nubank. Selic e IPCA: as taxas básicas da economia que afetam seu bolso. Disponível em: <https://blog.nubank.com.br/selic-ipca-o-que-e/>. Acesso em: 05 de Set de 2020.